O Templo era a ‘habitação’ de Deus. Era, literalmente, um ‘microcosmo’, contendo o universo em si mesmo. Lá estava a Arca da Aliança, colocada no Santo dos Santos e envolvida pela própria presença de Deus, a Shekinah, a nuvem da Glória do Senhor.
Só que isso durou até a queda de Jerusalém frente aos babilônicos. Sabendo do iminente fim, o profeta Jeremias, seguindo as ordens de Deus, retira a Arca da Aliança e a esconde para não mais ser encontrada (2Mc 2). Ou melhor, até Deus a revelar novamente de outra forma (Ap 12,1).
O fato é que o Segundo Templo não mais tinha a presença de Deus em seu vazio Santo dos Santos. Ele esperava algo.
Esse algo, nos diz São João, é o próprio Verbo Encarnado. Na introdução do Evangelho escrito por ele, e inspirado por Deus, o apóstolo revela que “o Verbo se fez carne e HABITOU entre nós” (Jo 1,14). A expressão usada foi escolhida a dedo (o dedo de Deus!). A expressão grega é “eskénogen” (ἐσκήνωσεν), que vem de ‘skenóo’ (σκηνόω), que significa habitar em um sentido mais profundo, pois a expressão bíblica para habitar sempre merecerá atenção, já que o original descreve algo como “viver no tabernáculo”, “fazer um tabernáculo”.
A intenção do Evangelho segundo São João é, literalmente, demonstrar que o Senhor se “tabernaclisou” entre nós. O Senhor é tanto a Glória que ‘habita’ como o tabernáculo em que ela habita. É importante notar que o Senhor faz questão de demonstrar o respeito que se deve ter pela “Casa do Senhor”, como quando Ele expulsa os vendilhões.
Note que, ao contrário dessa narrativa sendo posterior nos sinóticos, São João a inclui logo no começo, reforçando o simbolismo do Senhor, o Verbo “tabernaclisado”, visitando o antigo Templo para demonstrar o respeito devido, o zelo que deve nos consumir (Jo 2,14-17).
Mesmo assim, o Senhor ensina que aquele Templo, agora vazio, cairia definitivamente. Enquanto Ele, o Novo Templo, seria “derrubado, mas em três dias seria reerguido”. Uma vez reerguido em Glória, os apóstolos que recebessem o Espírito Santo, eles mesmos feito Templos (1Cor 3,16; 6,19-20) do Espírito Santo, deveriam guardar o Senhor e celebrá-Lo com total respeito à Casa de Deus, a Igreja Católica, que segue sendo a habitação, o tabernáculo do Senhor.
Embora cada local físico deva ser absolutamente respeitado e protegido como tabernáculo do Senhor Eucarístico, a Igreja é a habitação do Senhor porque é o conjunto dos fiéis ‘tabernaclisados’ em Cristo, à espera do dia em que seremos definitivamente parte do Tabernáculo Celestial. Não como espíritos sem corpo, mas assim como o Senhor é Corpo, Sangue, Espírito e Divindade, nós estaremos com Ele ressuscitados em Sua Glória. Aleluia!
Nunca esqueçamos do amor que nos espera à cada Missa. Mesmo que em nosso estado pecador não possamos desfrutar totalmente da Glória que nos espera nos Céus, o que temos aqui não é um “pedaço”, mas todo o Céu que nos encontra no Tabernáculo do Senhor. Glória a Deus por tamanha bênção!
Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
um Papista