A Realeza da Virgem Maria: Rainha-Mãe ontem, hoje e para sempre.

By | 22 de agosto de 2022

Quando a Igreja Católica fala sobre a realeza de Maria, as honras e venerações dignas de uma rainha dirigidas à Mãe do Redentor, muitos torcem o nariz. Alguns acreditam que é pura idolatria sem sentido. Outros que é uma bem construída narrativa da Idade Média, baseada inteiramente na “tradição dos homens”.

Na verdade, a realeza da Virgem Santíssima é bíblica e totalmente natural se assim entendida. De fato, entendendo a História da Salvação, retirar sua realeza não só é contrário às Escrituras, como torna tudo sem sentido. Mesmo assim, uma outra pergunta deve ser respondida: que tipo de realeza é essa? Simbólica ou efetiva?

Quem estudar a Sagrada Escritura perceberá que todo ato de Nosso Senhor Jesus Cristo possui uma tripla característica: resgate, purificação e renovação. Tudo o que o Senhor faz ou fala resgata o que veio pela ordem de Deus na Antiga Aliança (o Antigo Testamento), mas foi corrompido pelo pecado humano. Esse resgate demanda a purificação que vem como o arrependimento e a limpeza que vem apenas com o Espírito Santo. Tal ato nos renova para a proclamação do Reino de Deus.

Dessa maneira, o Senhor começa o Seu Ministério Sagrado anunciando que chegou a hora do arrependimento, pois o Reino de Deus chegou com o Rei (Mc 1,15). Para isso, tudo o que o Senhor diz e faz é uma citação do AT ou o cumpre e eleva. Como vimos recentemente, coisas que parecem pequenos detalhes, como uma “fogueira de carvão”, são momentos de resgate, purificação e renovação. O próprio caminho percorrido pelo Senhor segue esse plano de salvação, bem como todo o resto.

Dessa maneira, não há nada que não possa ser explicado sob esse prisma. De fato, deve ser explicado por esse prisma para que não se invente uma personalidade ao Senhor que não existe, como um “Jesus revolucionário” etc. Da mesma forma, cada nova descoberta histórica ou arqueológica tem nos ajudado a confirmar a doutrina da Igreja Católica. Sejam os Pergaminhos do Mar Morto ou novas fontes e registros históricos.

De fato, como eu disse na introdução, retirar a realeza de Maria seria retirar sua vida e missão do contexto bíblico da salvação. Seria inventar uma mulher que não existe na Bíblia. Para entender como a realeza de Maria é Bíblica, precisamos examinar a Escritura e o que sabemos da história do Reino de Israel, especialmente o tempo de Davi, com quem o Senhor forjou a Aliança do reino eterno, que seria cumprida pelo “Filho de Davi”. Algo que se cumpre apenas parcialmente em Salomão, mas se cumpre e eleva em Cristo, o Filho de Davi, o nome do Messias esperado (Mt 1,1; 15,22; 21,9; Mc 10,48; Jo 7,42; 2Tm 2,8 etc).

Existe uma passagem crucial para se entender a realeza de Maria como parte do cumprimento messiânico: 1Rs 2,13-20. No segundo capítulo do Primeiro Livro dos Reis, vemos o começo do reino de Salomão. É preciso algum contexto para entender melhor os acontecimentos. Pouco antes de morrer (1Rs 2,10), o Rei Davi decidiu que Salomão seria o rei. Salomão NÃO era o primogênito (o que tem enorme peso para se explicar o que é realmente a primogenitura no AT, mas isso é outra história). Em teoria, a coroa deveria ser passada para Adonias. Davi, porém, sabia que Salomão era o homem mais digno do trono.

Inconformado, Adonias vai até Besabeia (Betsabé, Betsabá, Batsheda, ou como queira traduzir), a esposa de Davi e mãe de Salomão. Ele pede que ela interceda (!) por ele. Ele diz que o rei não nega nada ela. Isso não é mero detalhe afetivo. A exposição não deixa dúvida de que isso era parte do protocolo real. Entenderemos mais adiante.

Betsabé vai até Salomão que, ao vê-la, faz uma ‘profunda reverência’ (1Rs 2,19) e coloca um trono à sua direita (!) para ela. Em primeiro lugar, um rei não se curva a ninguém, a não ser a Deus (adoração) ou por honra. Não honra a um chefe de estado, que não merecia tal reverência, mas honra por demanda sagrada (veneração), o respeito devido ao pai e à mãe como sinal da Aliança que nos torna família.

Algumas traduções mudam a expressão “trono” para uma “cadeira” para Betsabé. O fato é que a expressão para o trono do rei e a “cadeira” para a rainha é a mesma, ‘kissé’ (כִּסֵּא). São dois tronos. E sentar à direita dispensa maiores explicações. É um sinal de autoridade real e sagrada, um compartilhamento da autoridade que não se diminui, mas se eleva ao se multiplicar. Assim como somos todos chamados a ser co-herdeiros de Cristo (Rm 8,17).

Betsabé era a Rainha-Mãe. Esse é um título comum. No Reino de Israel, ela era a ‘Gebirah’ (גְּבִירָה‎), a Rainha-Mãe. Várias monarquias possuem uma rainha-mãe, como a monarquia inglesa. Por isso, é comum se entender a rainha-mãe de Israel como uma figura simbólica. Só que, no caso bíblico, ela é muito mais do que simbólica.

A Rainha-Mãe de Israel era a Rainha de Israel. Por quê? Por um motivo muito simples: poligamia. Os reis de Israel tinham várias esposas. Não apenas concubinas, mas também muitas esposas. Salomão tinha 700 esposas (e 300 concubinas), mas não tinha 700 rainhas. A Rainha-Mãe era, de fato, a rainha de Israel.

Como vemos, algumas características da rainha de Israel seriam cumpridas e elevadas em Cristo:

  • a mãe do rei era coroada e se sentava à sua direita como ‘de facto’ rainha de Israel.
  • a Rainha-Mãe era venerada (honrada) até mesmo pelo Rei, que dava a ela privilégios únicos para cumprir a sua missão.
  • a missão da Rainha-Mãe era interceder junto ao Rei e é dito que, vindo de Sua Mãe, nada é negado.

Aquilo que era imperfeito no AT, uma mera sombra da realidade gloriosa em Cristo, é cumprido e elevado na Nova Aliança. É esperado que a intercessão de Betsabé ou o reino de Salomão fossem imperfeitos, assim como todos que Jesus cita como autoridade, como os profetas ou mesmo Moisés. Afinal, lá estava “alguém maior que Salomão” (Mt 12,42), aquele que cumpre e eleva o reino de Salomão e é a Sabedoria Encarnada que, em Salomão, era mera sombra.

Jesus resgata, restaura e eleva as missões do AT, como o novo “primeiro ministro” do Reino (Is 22,22; Mt 16,19). As 12 tribos de Israel seriam a base para os 12 homens que assistiriam ao rei no governo da “casa de Israel” (1Rs 4,7), assim como Jesus resgataria e elevaria essa função com 12 apóstolos para a Nova Israel, a Igreja Católica, a quem o Senhor prometeria 12 tronos (Mt 19,28), como os 12 príncipes em 12 tronos (Sl 122). A eles, unidos ao Papa, o Senhor também daria a autoridade para ligar e desligar nos céus (Mt 18,18).

A “mulher vestida de sol” na visão de São João é a Virgem Maria, aquela que tem uma coroa de 12 estrelas, pois ela reina sobre a Nova Israel. Vestida de Sol e com a lua aos seus pés remete à beleza da rainha no Cântico dos Cânticos (Ct 6,10). Suas dores do parto não são sinais de dor física pelo nascimento de Cristo, mas a dor de dar à luz o Salvador que sofreria por todos. Só uma mãe pode imaginar tal dor para muito além da dor do parto. Essa é a dor da espada que a trespassaria, conforme profetizado por Simeão (Lc 2,35).

Sim, nós temos uma Mãe Santa. Uma a quem um privilégio único foi concedido. O privilégio de ser Mãe do Salvador; para sofrer por amor, sim, mas também para assumir o seu lugar à Sua direita como Rainha dos Céus e da Nova Israel, a Igreja Católica.

Ignorar tudo isso é ignorar tudo o que o Senhor fez em Seu plano de salvação, um plano de resgate, purificação e renovação. O que era mera sombra se torno uma realidade gloriosa em Cristo. Quem era uma rainha imperfeita de um reino imperfeito, se torna uma Rainha-Mãe puríssima, sem pecado, em um Reino perfeito. Uma Rainha-Mãe que é mais que um símbolo, um bibelô de devoção de senhoras (como é pejorativamente visto), mas uma Rainha que intercede por nós, seus filhos.

Podemos ter a certeza bíblica de que, indo à Maria, o Rei dos Reis nos escutará.

Nossa Senhora, Rainha dos Céus e da Igreja, rogai por nós.

Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,

um Papista

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