Santa Tecla, protomártir da Igreja.

By | 23 de abril de 2015

Santa Tecla

Tecla foi uma jovem que, ao ouvir um discurso de São Paulo, largou tudo, se converteu e seguiu o apóstolo até o fim da vida. Mas não é tão simples descrever a vida dessa grande santa.

Em primeiro lugar, sua fonte histórica primária, “Os Atos de Paulo e Tecla”, é apócrifa, ou seja, de autoria desconhecida (ou duvidosa). Por outro lado, deve ser dito logo que seu nome é citado várias vezes por autores não católicos desde o primeiro século até o terceiro. Sua presença é bem registrada para uma pessoa dessa época, por fontes diferentes, o que não deixa dúvidas sobre a veracidade de sua existência e fatos principais de sua história. O fato da maior parte da sua história ter sido preservada em um documento apócrifo não retira sua veracidade. Já comentei neste blog sobre evangelhos gnósticos, falsos, e os apócrifos. Ser apócrifo não indica necessariamente falsidade ou gnose. Alguns dos apócrifos são altamente respeitados em algumas tradições e, se não são considerados inspirados por Deus, ou inteiramente de acordo com os primeiros e canônicos livros, são fonte de inspiração e nos dizem muito sobre a história da Igreja em seu nascimento, com seus personagens principais e sua luta. Tecla é um grande exemplo disso.

Ainda no primeiro século depois de Cristo, havia um grande respeito pela virgindade e o que isso significava quando a mulher escolhia (!) preservá-la por uma causa e, em especial, para se dedicar ao ascetismo cristão, que é uma busca moral, e não física. No fundo, é um sinal de entrega total ao Senhor. Tecla, nesse sentido, é também um grande exemplo para as futuras ordens femininas. Ao escolher recusar o casamento e se entregar ao ascetismo, Tecla inaugura um tipo de escolha impensável na época, e até mesmo durante muitos séculos depois. É sempre importante lembrar que o cristianismo ainda estava em seu começo, e as tradições dos povos da época eram sempre voltadas para o que se chamava de ‘casamento’ na época. Muitas vezes com a união escolhida para as mulheres por seus pais ou familiares.

Tecla é um exemplo de mulher determinada e forte. Hoje em dia não seria bem vista pelas feministas. Ela era forte, escolheu o seu destino e abriu portas para tantas outras. Não se entregou unicamente ao sexo e não esbravejou contra qualquer obstáculo, mesmo filhos (que são vistos como obstáculo em nosso tempo). Digressão à parte, por sua força e determinação, Tecla foi amplamente venerada desde o começo da Igreja. Suas atitudes, sem dúvida alguma, mudaram o entendimento do mundo sobre a mulher.

A Igreja é a primeira a abraçar a mulher como um indivíduo de mesmo valor que um homem e, daí pra frente, centenas de mulheres são veneradas tanto por suas atitudes como por suas idéias.

Tecla não era uma ‘feminista’. Ela não estava pensando em termos políticos, ou mesmo nela mesma. Seu exemplo vem de uma profunda vontade de servir. Para servir, ela sabia que era preciso estar na Igreja de Cristo, seguindo o que os apóstolos ensinavam e preservavam da Palavra de Deus e Tradição da Igreja. Assim como fazer o possível para ser uma pessoa melhor para, então, servir ainda melhor. Tecla segue Paulo, junto com outros discípulos, para ter boa orientação e um constante exemplo de alguém chamado diretamente por Cristo. Alguém que também havia mudado radicalemente de vida.

Juntamente com Santa Perpétua (já comentada neste site), Tecla é uma das mais importantes mulheres da Igreja primitiva. Como aconteceu (e ainda acontece) com tantos cristãos, Tecla foi perseguida, presa e agredida diversas vezes. Algumas tradições, principalmente as orientais, contam como Tecla escapou milagrosamente da morte em várias ocasiões. Tentaram queimá-la, jogá-la aos animais selvagens, matá-la amarrando-a em animais que a arrastariam até a morte, mas nada teria funcionado. Em muitas ocasiões, seus captores a libertavam com medo e ela retornava para sua missão.

No final da sua vida, Tecla teria visitado São Paulo e seus discípulos mais uma vez e depois se retirado para uma região montanhosa. Perseguida e encurralada nas montanhas, ela teria rezado e pedido a Deus para levá-la, mas não pelas mãos dos seus perseguidores, por quem ela certamente seria estuprada e assassinada. Santa Tecla morre em um deslizamento de rochas. Seus perseguidores jamais a encontram. Em outra teoria, a santa teria sobrevivido e viajado até Roma alguns anos depois, para lá morrer e ser enterrada ao lado de São Paulo. Mas essa outra versão não tem base ou comprovação histórica, já que Tecla foi rapidamente reconhecida como mártir, e não alguém que morreu, ainda que na santidade, de causas naturais.

Todo mártir da fé recebe o perdão divino e a glória dos céus por seguir o exemplo do Sacrifício Pascal. Santa Tecla foi um grande exemplo de mulher que, além de quebrar paradigmas, lutou por sua fé até o final, sendo morta por sua fé e pregação. Sendo a primeira mulher mártir da Igreja, é reconhecida como protomártir feminina da Igreja e venerada com paixão pelo mundo todo. Seu exemplo de vida tem muitas facetas. Uma mulher que lutou pelo que acreditava; uma pessoa que buscou a verdade através do conhecimento; uma asceta que se dedicou tanto à sua iluminação quando ao Evangelho e aos mais necessitados; e uma cristã que por nada abandonaria a sua fé, a Igreja, e seu Deus.

A única revolução de Santa Tecla foi a eternamente revolucionária experiência de seguir fielmente o Senhor. Com isso, ela mudou o mundo de verdade.

Que Santa Tecla, padroeira dos agonizantes, seja sempre um exemplo para todos nós.

Em Cristo, sob a proteção da Virgem Maria,

um Papista

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