O que São Pio X dizia sobre a obediência ao Papa?

By | 26 de setembro de 2017

Em tempos de franca (e por vezes apelando para a total desonestidade) desobediência ao papa, sempre com supostos apelos à tradição e papas “pré-Vaticano II”, talvez seja bom lembrar o que dizia São Pio X sobre amar e obedecer o papa.

Com uma visão história mais profunda, talvez essas pessoas entendam como era vista e exigida a obediência e como o comportamento atual é danoso (isso, sim, é efeito do modernismo que elas dizem combater). Com sorte e algum estudo, alguns verão quais as circunstâncias (e quem poderia!) para se discordar, e como fazê-lo. Certamente não publicamente e de forma tão desrespeitosa.

Um católico que age dessa forma, se dando a autoridade de dizer quem é legítimo e quem não é; ofendendo publicamente o papa; e sendo seletivo com o quê e quem obedece; causa escândalo. E escândalo na doutrina católica não é chamar indevida ou exagerada atenção. É a possibilidade de afastar fiéis da Santa Igreja, a mesma que tem o papa como seu pilar na terra, protegido pelo Espírito Santo e por Ele escolhido.

O debate teológico ou em bom nível é sempre bem vindo. Mas discordar sem conhecimento não é bom nível. Muito menos ofensas e desobediência pura e simples, pública o suficiente para influenciar os outros.

Deixemos que o grande São Pio X fale por nós. A tradução (do italiano e das citações em latim) e a caça às citações bíblicas são minhas. O original você encontra no link abaixo, e pode checar como achar melhor. Se isso é mera curiosidade e você continuará em sua seletividade, não é problema meu. Mas eu espero que isso ajude o diálogo honesto e respeitoso.

Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,

um Papista

 

Alocução “Vi Ringrazio”, aos sacerdotes no 50o aniversário da União Apostólica, 1912

http://w2.vatican.va/content/pius-x/it/speeches/documents/hf_p-x_spe_19121118_unione-apostolica.html

Tradução:

Obrigado, amados irmãos, pela delicadeza de pensamento que os trouxe ao Vaticano para celebrar aqui com o irmão mais velho o quinquagésimo aniversário da fundação da ‘União Apostólica’. Agradeço sinceramente, e rogo para que o Senhor os recompense por este ato de fina caridade. Eu os congratulo pelo apegado a esta União, porque com esse ato você se comprometeu a cumprir fielmente todas as obrigações sacerdotais: as obrigações que procurei resumir na “Exhortatio ad clerum” (Exortação ao Clero), publicado na ocasião do meu jubileu sacerdotal, e cujo cumprimento permite manter-nos fiéis à vocação a que o Senhor nos chamou: “vocavit vocatione sua sancta” (“Nos chamou com vocação santa” 2Tm 1,9): poderemos alcançar a santidade necessária para o sacerdócio a que fomos chamados. Ao falar sobre os cristãos ordinários, São Pedro os chamou de “gens sancta, genus electum, regale sacerdotium” (“Sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa” – 1Pe 2,9), temos mais a dizer a vocês, os representantes de Deus na terra e seus ministros, “quos elegit Deus in Christo ante mundi constitutionem” (Ef 1,3-4), “ut essemus sancti et imrnaculati in caritate” (Ef 1,4), “quos non dixit servos sed amicos” (Jo 15,15), “pro Christo legatione fungentes” (2Cor 5,20), “ministros Christi et dispensatores mysteriorum Dei” (1Cor 4,1)?

Portanto, para alcançar essa santidade, recomendo a você que permaneça sempre fiel às regras de sua União e se alegre em não se dispensar nenhum dia ou por qualquer razão de obrigações como a meditação, leitura espiritual, exame (de consciência), e uma visita ao Santíssimo Sacramento, porque ao observar esta ordem, você será bom e se tornará santo.

Distraído por tantas outras ocupações, é fácil esquecer as coisas que levam à perfeição da vida sacerdotal; é fácil enganar e acreditar que, ao lidar com a saúde das almas de outras pessoas, isso também funciona para a sua própria santificação. Mas não nos enganemos, porque “nemo dat quod non habet” (ninguém dá o que não possui); e para santificar os outros, não devemos negligenciar nenhum dos meios propostos para santificar a nós mesmos.

Você disse muito bem que a característica dos sacerdotes da União Apostólica e sua divisão particular deve ser, de fato, o amor pelo Papa, e isso também contribuirá admiravelmente para a sua santificação. Para amá-lo, basta refletir sobre quem é o Papa:

O Papa é o guardião do dogma e da moral; é o detentor dos princípios que tornam a família honesta, as nações grandes e as almas sagradas; ele é o conselheiro dos príncipes e dos povos; é a cabeça sob a qual ninguém se sente atormentado, porque ele representa o próprio Deus; é o pai que, por excelência, reúne tudo o que pode ser amoroso, tenro e divino.

Parece inacreditável, até doloroso, que existam alguns sacerdotes a quem é necessário fazer essa recomendação, mas, infelizmente, em nossos dias, estamos nesta difícil e infeliz condição de ter que dizer aos sacerdotes: ame o Papa!

E como deve o Papa ser amado? “Non verbo neque lingua, sed opere et veritate” (“Não em palavras, mas em atos e em verdade” – 1Jo 3,18). Quando alguém ama uma pessoa, ele tenta se conformar em tudo aos seus pensamentos, fazer sua vontade, realizar seus desejos. E se o nosso Senhor Jesus Cristo falou de si mesmo, “si quis diligit me, sermonem meum servabit (“Se alguém me ama, guardará a minha palavra” – Jo 14,23), então, para mostrar nosso amor ao Papa, é necessário obedecê-lo.

Portanto, quando amamos o Papa, não há discussão sobre o que ele ordena ou demanda, ou até que ponto a obediência deve ir, e em que coisas ele deve ser obedecido; quando amamos o Papa, não dizemos que ele não falou claramente o bastante, como se ele fosse obrigado a repetir ao pé do ouvido de cada um a vontade claramente expressa tantas vezes não só em pessoa, mas em cartas e outros documentos públicos; nós não questionamos as suas ordens, sob o fácil pretexto daqueles que não querem obedecer – que não é o Papa que comanda, mas os que o cercam; não se limita ao campo em que Ele pode e deve exercer a sua autoridade; não colocamos acima da autoridade do Papa a das pessoas, mesmo as mais eruditas, que estão em desacordo com o Papa; aqueles que, mesmo eruditos, não são santos, porque quem é santo não pode discordar do Papa.

Este é apelo de um coração aflito, que com profunda amargura se dirige a vocês, amados irmãos, não para vocês, mas para com vocês deplorar a conduta de tantos sacerdotes, que não só se permitem discutir e criticar os desejos do Papa, mas não se ressentem de chegar à desavergonhada e admitida desobediência, com tal escândalo contra o bem e com tanto ruína para as almas.

Este lamento não é provocado (repito) por vocês, amados irmãos, que, observando as regras da União, professam solenemente seu trato, seu carinho, sua piedade para com o Papa. – Deus os mantenha nesses santos propósitos e os console com a sua benção; aquela benção que eu invoco sobre vocês, sobre seus irmãos, sobre suas famílias, sobre todas as pessoas que vocês amam e têm em mente, para todos eles. Por toda consolação,

São Pio X

Alocução “Vi Ringrazio”, aos sacerdotes no 50o aniversário da União Apostólica, 1912

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