Apresentação de Nossa Senhora (Giotto)
Hoje é a festa da Apresentação da Virgem Maria no Templo. Essa festa nos mantém atentos ao grande mistério da bênção especial reservada por Deus à Virgem Maria. Da Imaculada Conceição, passando pelo seu nascimento, voltamos nossos corações agora à apresentação de Maria no Templo.
Segundo a Sagrada Tradição, a Virgem Maria foi apresentada ao Templo como uma forma de demonstrar e consagrar a sua entrega total a Deus. Embora tal relato esteja ligado ao apócrifo ‘Protoevangelho de Tiago’, existem outros escritos com esses relatos e diferentes origens para a tradição, o que nos remonta a uma tradição oral ativa e constante já nos primeiros séculos.
Muita atenção se dá aos motivos mais mundanos de sua apresentação, se ela teria ido lá apenas para receber uma bênção; se cumpria votos feitos por São Joaquim e Santa Ana, seus pais; ou se ela realmente permaneceu no Templo até os 12 anos, quando teria sido prometida a São José.
Precisamos de um olhar teológico mais profundo sobre a continuação deste mistério da bênção de Deus àquela que com o seu ‘sim’ daria à luz ao Filho de Deus.
O Templo era o local em que Deus ‘habitava’. O que significa isso? Significa que no Templo havia perpetuamente a presença da ‘Shekinah’, a nuvem da Glória de Deus que fazia do Templo o único local digno para o sacrifício e o pleno louvor. Tal linguagem é utilizada por toda a Escritura, e a Igreja separa a leitura do livro do profeta Zacarias (Zc 2,14-17) na Liturgia de hoje para nos chamar a atenção sobre a habitação do Senhor novamente no Templo, em Jerusalém.
No Templo original, construído por Salomão, também permanecia lá a Arca da Aliança, envolta pela Shekinah. No Segundo Templo, no tempo de Cristo, a Arca da Aliança já não se encontrava.
A apresentação de Nossa Senhora, nesse sentido, é também a apresentação da Arca da Nova Aliança, aquela que receberia o Pão da Vida, a Nova Lei, e seria o Novo Sumo-Sacerdote real. Em Maria, a ‘sombra de Deus’ (Lc 1,35) a cobre para que dela nascesse o Filho de Deus. Ora, a expressão grega para a ‘sombra’ é ‘ἐπισκιάζω’ (Episkiazo). Tal expressão é usada 5 vezes no NT. Todas para descrever exatamente a ‘Shekinah’, a nuvem de Glória do Senhor.
Dessa forma, podemos (e devemos) nos permitir vislumbrar a apresentação da Virgem Maria como o seu primeiro passo no que mais tarde seria a sua aceitação total frente ao anjo do Senhor. Nela, a Arca da Nova Aliança se apresenta à Glória de Deus no Templo, iniciando a relação de absoluta entrega que mais tarde se cumpriria quando a nuvem a cobrisse.
Este é o dia em que a Arca da Nova Aliança adentrou o Templo de Deus para dar seus primeiros passos no mistério supremo que viria sobre ela em uma bênção especial. Ela carregaria o Novo Maná, a Nova Lei (a Lei do Amor) e o Sacerdote eterno na ordem de Melquisedeque.
Através da festa de hoje nós podemos vislumbrar um pouco mais de um mistério tão lindo quanto insondável, uma misericórdia tão grande que nos enviou o Seu Filho para morrer por nós. É através de Maria, a Arca da Nova Aliança, que tal bênção se cumpre. Assim como ela o fez desde que foi apresentada ao mistério no dia que celebramos hoje, nos preparemos para o nascimento de Cristo com mais alegria e fé. A mesma alegria e fé que cantamos hoje com Maria sua ‘Magnificat’ como um Salmo de louvor e agradecimento.
Que este dia de sua santa apresentação seja um dia de profundo agradecimento e admiração. A mesma admiração de quem ouviu as palavras de Cristo no Evangelho de hoje (Mt 12,46-50), um sinal de esperança, pois a bênção à Virgem Maria a faz um exemplo de maternidade para toda a família cristã. A mesma que o Senhor disse que, vivendo para Ele, a família cristã é Sua mãe, irmã etc.
Lembremos o começo da apresentação da Virgem Maria como mais um passo em sua preparação para receber o Senhor. Que seja também a nossa caminhada para o Advento da vinda do Senhor.
Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
um Papista