Chamai-me Ismael! O Islã e a urgência da Nova Evangelização.

By | 7 de junho de 2017

Se Deus é bom e ama os seus filhos, por que ele permite o avanço do Islã? Se o Deus de Israel, Jesus Cristo, a Santíssima Trindade, são a verdade, por que o Islã ganha terreno e massacra os filhos de Deus? Ora, se a Igreja resguardou e divulgou como deveria a verdade revelada ao mundo, seria de se esperar que o cenário atual fosse impensável. Seria a conclusão correta admitir que o indiferentismo religioso, que defende que “a verdade está em qualquer religião”, ou talvez o relativismo, o panteísmo moderno que nos martela a idéia de que Deus “está em tudo, Deus é a natureza!”, ou o ateísmo militante estão com a razão? Como explicar bíblica e teologicamente a situação atual do mundo com o Islã ganhando terreno? E o que fazer para mudar isso?

Como disse um grande autor em um momento descontraído: “o pecado original é sempre uma boa explicação”. Sem dúvida! É o começo do problema, mas não explica nada especificamente. A queda afeta toda a humanidade, e influencia tudo o que está errado. Mas o pecado original apenas aumenta a nossa responsabilidade, não a diminui. Voltaremos a isso mais adiante.

Como a Bíblia pode nos ajudar a entender esse problema que já dura tantos séculos?

No livro do Gênesis, mais especificamente em ‘Gn 15‘, Deus diz a Abrão (depois chamado Abraão, como será referido neste artigo daqui pra frente) que ele terá filhos. Não só filhos, como uma linhagem que será fundamental para a história da salvação. Essa será a linhagem real de Israel, que seguirá ininterrupta até Jesus Cristo, mesmo com todos os problemas pelo caminho. São Mateus, o evangelista, explicando a Revelação para os judeus, começa o seu relato do Evangelho com uma genealogia (toledoth) exatamente para ilustrar esse ponto para seus conterrâneos (Mt 1,1-16). Porém, a linhagem que carregava a benção divina não foi a única. Abraão aceita uma proposta de sua esposa estéril, Sarai (Sara), para que eles tivessem um filho através de sua escrava, Agar (Gn 16). Provavelmente pensando que essa era a solução dada por Deus para resolver o seu problema familiar, Abraão tem um filho com Agar. O garoto recebeu o nome de Ismael (Gn 16,11).

O que acontece em seguida define a rivalidade eterna entre Isaac e Ismael. Expulso da relação familiar por Sarai, Ismael cresce e desenvolve sua própria linhagem no deserto (Gn 21). Assim como Abraão não teve culpa aos olhos de Deus por ter um filho que não fosse o prometido por Deus, já que a idéia de ter um filho com Agar era um engano, Ismael também não tinha culpa pela situação da sua vida. Deus tinha planos para o filho rejeitado por Abraão. O Senhor aparece para Agar e diz que fará de Ismael uma grande nação.

Para simplificar: Isaac é parte da Aliança divina do Senhor com Israel. É o ‘primogênito’* de Abraão, que carregará a bênção na linhagem divina que desagua em Cristo. Ismael, por outro lado, é o patriarca dos povos árabes. De Ismael vieram os povos árabes da região. Esses povos também fazem parte do plano de Deus.

Note que são os povos árabes, e não o Islã. O problema começa exatamente com a religião supostamente fundada por Maomé. O Islã é uma forma de idolatria, e boa parte dos povos árabes sucumbiu completamente à idolatria.

A pergunta que deve se fazer, então, é: se o Islã é uma forma de idolatria, por que a civilização judaico-cristã não triunfou?

Porque a civilização judaico-cristã também é vítima da idolatria. Aceitando o modernismo, o relativismo, o indiferentismo religioso e moral, o aborto, o gayzismo e seu fruto mais recente, a ideologia de gênero, é difícil negar o estado precário da nossa civilização.

É válido lembrar que tem mais responsabilidade quem sabe mais. No caso, de quem viveu (ou diz viver) sob as demandas da verdadeira Revelação será cobrado mais. Ou seja, se a própria civilização cristã nega Jesus Cristo como único Senhor; se hoje ela assassina mais bebês do que alguns dos piores momentos da humanidade, ela não encontrará a vitória contra outros idólatras. Se nós nos desviamos do bom caminho, não há motivo para acreditar que Deus nos assegurará a vitória como civilização. Apenas, talvez, a vitória individual de alguns contra o pecado.

O caminho da nossa vitória passa por uma reconversão do ocidente. Não uma simples ‘volta ao cristianismo’, mas uma conversão profunda, em que a religião cristã passe a ser parte fundamental da vida de todos. Tal conversão só é possível quando aceitamos a verdade dos fatos. Como cristãos, devemos aceitar que a sociedade já não vive o cristianismo, e que essa experiência social de uma sociedade sem Deus falhou. É preciso uma fé vivida intensamente por todos para transformar o que hoje é visto como uma “crença pessoal” na base do pensamento e atos comuns da nossa sociedade. Formar uma cultura cristã, e não uma cultura que apenas finge tolerar a religião como se fosse meramente uma superstição pessoal que não tem espaço na vida pública.

Quando São João Paulo II voltou à sua amada Polônia em 1979, ele visitou “Nowa Huta”, um distrito criado pelos comunistas para implementar sua engenharia social. Para alcançar esse objetivo, os comunistas decidiram que em Nowa Huta não haveria igrejas ou símbolos religiosos. Dessa forma, os soviéticos assim acreditavam, começaria o trabalho de apagar o cristianismo da Polônia. Ao chegar naquele triste local, o Papa João Paulo II disse que era preciso uma “nova evangelização”. Essa expressão seria usada por ele anos depois, dessa vez como uma estratégia definida. A Nova Evangelização seria a “re-cristianização” do mundo cristão. Seria pegar um mundo que já ouviu a Palavra, a esqueceu, e refazer sua identidade e fé cristãs.

A Nova Evangelização nunca foi tão urgente. Sem isso, é improvável que a Europa sobreviva. Estéril e sem identidade, a Europa recebe seus inimigos com o tapete vermelho estendido. Mesmo se o Islã não fosse uma religião belicosa, a Europa não tem filhos para evitar sua tomada via mera colonização. Apenas com a identidade que um dia uniu a Europa contra inimigos comuns é possível resistir. Ou melhor, querer resistir! Hoje a Europa se recusa a resistir. Ela perdeu as suas raízes e a fé que a moveu por séculos. Não só a Europa, mas todo o ocidente precisa fazer a sua parte na Nova Evangelização.

São João Paulo II, o Grande, identificou profeticamente a urgência do mundo. Antes de qualquer coisa, a Polônia precisava resgatar suas raízes cristãs. Sem isso, o resto cairia. Com isso, não é à toa que a Polônia hoje é um oásis de segurança, paz, e alegria do Evangelho em meio aos vizinhos europeus sem filhos, sem alegria, e sem Deus. Não basta melhorar a economia ou indicadores sociais. A Europa precisa de sua identidade, precisa saber quem é para lutar por alguma coisa. Ela precisa resgatar a sua cultura para redescobrir quem é. Isso passa pela redescoberta da Palavra de Deus e de sua identidade cristã. Para isso, todos precisam encarar sua missão como portadores da Palavra e participar ativamente da Nova Evangelização. Deus te dá dons e garante que, com Ele, a vitória é certa. Então, use os seus dons cooperando com a Graça Divina. Deus fará o resto!

Ismael, filho de Abraão, não veio ao mundo como mero antagonista. Veio esperar o mesmo que todos os outros: que a Palavra de Deus chegasse até ele e o convertesse. Ele e o resto do mundo ainda esperam pela Palavra! Até lá, é preciso que quem tem a obrigação de levar a Palavra aos quatro cantos do mundo (Mc 16,15) cumpra a sua missão! Enquanto isso, não há dúvidas: os idólatras, internos e externos, precisam ser combatidos; os árabes não-muçulmanos precisam deixar a cumplicidade com os idólatras se quiserem realmente a comunhão com Deus; e a nossa conversão precisa ser profunda e absoluta.

A Europa e o mundo precisam da alegria do Evangelho, a Boa Nova de Cristo! Urgentemente! Foi a alegria do amor de Deus que uniu os homens e transformou a Europa num centro de beleza e desenvolvimento social e intelectual, além de unir o povo. É dessa fé que o povo precisa para se unir novamente.

No fundo, nós precisamos de santos! Foram os santos que mudaram o mundo um dia. Foram os santos que fizeram da Europa o que ela era. E apenas eles podem fazer isso novamente. A Nova Evangelização, a “re-evangelização” da Europa e do mundo, é a coisa mais urgente do nosso tempo. E santos vivem uma vida sacramental apesar do que o mundo pensa sobre isso ou fala deles. Precisamos consumir a Palavra escrita e a Palavra consagrada na Eucaristia.

Precisamos nos evangelizar novamente para que o nosso exemplo abra os corações de todos os povos para o Evangelho. Sem o exemplo da vivência cristã, nossas palavras são mortas. Sem isso, o Islã não nos respeitará como um dia respeitou um São Francisco de Assis. Sem isso, Ismael continuará sendo apenas um problema. Talvez um maior do que possamos lidar no futuro.

Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,

um Papista.

* o ‘primogênito’, na teologia bíblica da Aliança, nem sempre é o primeiro filho biológico, mas aquele que carrega a benção através da linhagem sagrada. Da mesma forma, em hebraico bíblico, uma palavra podia ser usada para vários significados diferentes. A palavra “bekor” (בְּכוֹר), podia significar tanto ‘primogênito’ como ‘bem-amado’.

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