Geração de Samuel, geração de Roboão.

By | 3 de novembro de 2016

Samuel foi um dos grandes profetas de Israel. Um líder do seu povo, e considerado sabiamente como “o décimo-terceiro juiz”. Ele foi um pilar de justiça e sabedoria para um povo que voltava a cair em erros. Um ciclo que até hoje se repete na história.

Já é possível notar no longo discurso de Josué (Js 24) que a corrupção havia sido notada crescendo entre o seu povo. O que às vezes parece escapar a alguns estudiosos é que o discurso não era apenas um aviso para o futuro. Josué sabia que o povo, secretamente, vinha adaptando suas tradições para incluir o culto aos falsos deuses. Esse tipo de corrupção custou e ainda custa caro ao povo de Deus! Seguidamente caímos nesse erro, com graves consequências.

No tempo dos juízes, o povo cai em um ciclo de pecado repetido diversas vezes. É o pecado que leva à servidão. Infelizmente, o tempo de paz dado pelo socorro divino é sempre terreno fértil para o homem se acomodar, esquecer de Deus, e retornar ao ciclo de tristeza. Esse ciclo no período dos juízes de Israel é um exemplo de algo que se repete até hoje.

Já idoso, o profeta Samuel tenta manter seu povo unido pela vitória de Israel. O que o povo continua sem compreender é que a vitória é de Deus, e não deles. O povo judeu é o primogênito de Deus, que Ele quer que conduza o mundo ao seu amor. Ao se distanciar de Deus, o povo da época, assim como nós hoje, falhamos! O povo, então, pede um rei a Samuel, profeta de Deus. Que Israel teria um reino era um fato. É parte da Aliança feita por Deus com Abraão. O problema aqui é que o povo queria um reino para já! Eles teriam um rei, sim, como era o destino de Israel, mas pelos motivos errados. Deus acalma Samuel mostrando que, como sempre, está atento ao crescimento de seus filhos: “Não é a ti que rejeitam, mas a mim, pois já não querem que eu reine sobre eles” (1Sm 8,7).

O reinado vem. Saul é o primeiro rei do que é, finalmente, um reino unido. Israel desfruta de um tempo de estabilidade, mesmo que a vontade de Deus não estivesse sendo perfeitamente seguida naquele momento. A mão piedosa do Senhor abençoa a nação, forjando, inclusive, mais uma Aliança com Davi, o segundo rei. Depois vem Salomão, que é o rei sábio, mas que volta a quebrar as promessas feitas por Deus.

No livro do Deuteronômio, Moisés adverte o povo para não mais juntar cavalarias, especialmente do Egito (Dt  17,16). O que isso quer dizer? Isso quer dizer que o rei não deveria fazer crescer seus exércitos como um conquistador, muito menos em comunhão com o povo que o havia escravizado. A vitória sempre foi de Deus, e dependia da fé, e não do poder do exército terreno. Salomão, no entanto, faz exatamente o que não devia. Ele aumenta seu exército buscando cavalarias do Egito. As outras advertências mosaicas eram sobre não se casar com mais de uma mulher, e não juntar fortuna, o que indicava aumentar impostos. Salomão teve 700 mulheres e 300 concubinas (mulheres estrangeiras)1. “As Minas do Rei Salomão” terminaram por simbolizar para a história a sua fortuna pessoal. As minas mesmo eram de cobre. O ouro também veio da venda do cobre, é claro, mas o texto destaca muito mais o peso dos impostos. Ou seja, exatamente o contrário do que Deus disse através de Moisés.

Roboão, filho de Salomão, se torna rei em um momento extremamente delicado. O povo estava exaurido por causa dos impostos. Esgotado e sofrendo as consequências do pecado da separação de Deus. O pecado leva à servidão, e os impostos eram a arma do pecador contra o povo, que entra em um ciclo desumano de trabalho para cumprir as demandas de um governo cada vez mais voraz.

Jeroboão, que havia fugido de Salomão, retorna para tentar conversar com Roboão, torcendo para que o novo rei fosse mais sensato que o pai sobre a situação de Israel e o povo de Deus. Ele apela por uma solução que libertasse o povo da servidão (1Rs 12). Roboão o ouve e decide pedir a opinião de seus conselheiros.

Roboão tinha dois grupos de conselheiros. Um era o grupo dos ‘anciãos’, gente que tinha vivido sob os reis anteriores, e sabia como era a vida antes e depois da servidão. Eles aconselham seu rei a fazer uma correção de curso. Roboão deveria diminuir a pressão sobre o seu povo, e tirá-los de um estado servil.

O outro grupo de conselheiros era formado por jovens que cresceram com Roboão, e para ele trabalhavam. Ou seja, os funcionários públicos da época. Os jovens conselheiros, que viviam confortavelmente sob as benesses vindas da opressão governamental, tentaram o rei para que ele fosse ainda mais firme com o povo desesperado e pedinte! Roboão deveria demonstrar força e aumentar os impostos e as demandas sobre o povo. Não por acaso, o rei decide seguir esse grupo, que o tentara com demonstrações de força e promessas de mais riquezas.

O resultado foi catastrófico. O reino, que era unido sob as bençãos de Deus e da Aliança com Davi, se divide. Jeroboão leva consigo 10 tribos para formar um Novo Reino de Israel. A linhagem de Roboão permanece apenas com Judá e Benjamim. Apesar da separação e o erro do rei, o Reino de Judá é a legítima linhagem de Abraão e Davi, a linhagem de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, a divisão do reino jamais foi desfeita. Ou melhor, o remédio para o cisma de Israel e Judá, na verdade, veio apenas em Cristo. Jesus é a Nova Aliança, que une não só as tribos de Israel, mas todos os povos em Sua Igreja, a Nova Jerusalém.

É urgente que se entendam as lições bíblicas, as lições do povo de Deus que, mesmo sob as bençãos do Senhor, conseguiu se colocar em servidão e provocar uma divisão brutal até mesmo nas famílias.

Não é diferente do nosso tempo. Hoje, o ciclo continua. Em momentos de prosperidade, nos enchemos de soberba e esquecemos de Deus. Nos momentos ruins, nós questionamos o Senhor. No desespero, imploramos. Quando atendidos, nos silenciamos e recomeçamos o ciclo.

Nossa geração cai nas mesmas mentiras que as anteriores caíram. Apenas a fantasia é diferente. Entregamos nossa liberdade para falsos messias que terminam por nos escravizar. Eles prometem o paraíso sobre a Terra, e só precisam do seu dinheiro e da sua liberdade, entregue sob a sensação de que você faz parte da ‘mudança’. Você se torna um escravo que acredita estar livre.

A servidão de ontem é a mesma de hoje. Você ainda abre mão de tudo, trabalha mais duro, vê alguns amigos do rei se darem bem, e não recebe nada de volta. Os pequenos ainda são os mais prejudicados no massacre governamental e relativista.

Assim como no tempo de Roboão, nossa geração prefere ouvir a juventude inexperiente e ignorante. Nossa geração não quer educar os filhos ou ajudá-los a amadurecer bem. Não é mais possível citar um exemplo do passado, já que o passado se tornou um palavrão para a juventude que acha que já nasce pronta e sabendo tudo.

Nossa juventude é o nosso futuro. Exatamente isso: o futuro! Não é o presente! Ela deve ser educada e ensinada. Deve abaixar a cabeça para a sabedoria e a experiência, e aprender antes de abrir a boca. Nossa geração age como Pilatos, lavando as mãos e deixando o jovem conduzir nossas vidas como quiser e entregando o mundo para qualquer ditador de meia pataca!

O jovem não pode decidir sobre o que não tem responsabilidade e sabedoria para assumir! Nos falta coragem para dizer ao jovem que cale a boca, respeite os mais velhos, a experiência, e a sabedoria.

Em termos de evolução espiritual, nossa geração certamente não só não evoluiu nada, como piorou muito. A diferença para o passado é o brutal relativismo, somado à incrível arrogância da nossa geração. Tal postura explica o nosso distanciamento de Deus. Como pessoas e como parte de uma civilização que caminha na tristeza do vazio.

Nossa geração bebeu das piores fontes e chegou à conclusão de que é a melhor de todas! Para a nossa geração, Deus talvez ainda seja a fonte da moral e do bem. Por isso mesmo ela O recusa!

Nenhuma sociedade sobreviveu ao nível de imoralidade que a nossa geração tem desenvolvido em nome de uma tal liberdade que aprisiona. Nenhuma sociedade promoveu tamanha loucura que é delegar todo o seu futuro ao jovem, ao invés de prepará-lo para assumir a sua responsabilidade. Nenhuma sociedade inverteu tudo isso e saiu ilesa. A nossa não será diferente. O nosso fim, se nada mudar, virá nos ombros mais incapazes da história: nossos inexperientes e imaturos filhos. Por pura negligência nossa.

Assumamos nossa responsabilidade de educar nossas crianças, e de não permitir que qualquer porcaria seja ensinada a elas sem que possamos falar nada a respeito.Tenhamos coragem de enfrentar falsos mestres, pedagogos, professores, e libertadores que só querem aprisionar nossas crianças em seu próprio ego.

Olhemos para os céus para nos lembrar do Senhor, que é o único capaz de nos salvar. A única salvação que importa: a que leva à eternidade no amor de Deus.

Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,

um Papista.

1 – Muito se fala sobre essa passagem e o problema de um homem ter mulheres estrangeiras. Alguns autores dizem que havia uma preocupação em dividir terras, o que é bobagem. O rei hebreu não dividia terras por casamentos. Podiam ser acordos comerciais, mas nada muito além disso. Outra hipótese ruim é a ‘mistura de raças’. Esse fundamentalmente não era o problema de um povo que vinha assimilando dezenas de outros.

Essas interpretações modernas, históricas, sociológicas, tendem a esquecer o principal: é uma questão teológica! O povo da época, ainda “de coração endurecido”, necessitava de mais cuidados, regras e advertências. Exatamente como um jovem precisa! Como em vários períodos do Antigo Testamento, inclusive os aqui citados, quanto mais o povo se distanciava da palavra do Senhor, e se abria sem cuidado para outras culturas, mais ele as assimilava sem filtro, chegando a adorar falsos deuses e a se afastar do Deus verdadeiro. Ou seja, essa medida era uma precaução educacional. Algo que só um verdadeiro Pai pode fazer.

2 thoughts on “Geração de Samuel, geração de Roboão.

    1. Papista Post author

      Obrigado! Fico feliz que o senhor tenha gostado. Vindo do senhor, é um grande estímulo. Sempre unidos pela Glória de Deus.

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