Dez leprosos e um segredo.

By | 11 de dezembro de 2018

          Casos de cura são encontrados por toda a Sagrada Escritura. Abraão rezou por Abimelec e esse foi curado (Gn 20,1-18). Moisés intercede por Miriam, que havia sido afligida por lepra (Nm 12,1-15). Muito embora não haja relato explícito sobre a cura de Miriam, ela é punida com o isolamento e não se fala mais sobre a sua lepra. É possível que Deus tenha revertido sua punição por intercessão de Moisés. Jeroboão tem sua mão curada pela intercessão de um profeta enviado por Deus (1Rs 13,4-6). Sem falar em Elias, que até mesmo reanima a filha morta de uma viúva (1Rs 17,17-24).

            Curas como essas, além de mulheres estéreis que recebem a bênção de gerar um filho, são frequentes no AT. Todas são uma prefiguração de Cristo. Para entender isso perfeitamente, observe a cura dos dez leprosos em ‘Lc 17,12-19‘. Dez leprosos se aproximam do Senhor e elevam sua voz implorando a cura. O Senhor os cura com a seguinte recomendação: “vão e mostrem ao sacerdote“. Aqui é muitas vezes entendido apenas que Jesus queria que Seu ato fosse conhecido. Porém, a realidade é que leprosos eram isolados da vida comum. Principalmente, do principal ato da vida do homem, a participação na Liturgia e o louvor a Deus. Caso um doente contaminoso fosse curado, ele deria passar por uma inspeção do sacerdote e, só então, voltar a louvar a Deus.

            É de se esperar que os agora ex-leprosos ficassem contentes e buscassem imediatamente a reintegração à sociedade e à participação na Liturgia. Porém, um deles volta e se dirige a Cristo. Entre todos eles, um samaritano volta para agradecer e glorificar a Deus. Samaritanos eram idólatras e não eram bem visto pelos judeus. No entanto, um judeu o salvou e homem reconhece que Ele é o Senhor.

            Jesus diz ao samaritano: “Levante-se e vai, sua fé te salvou” (Lc 17,19). Vemos em várias ocasiões o Senhor repetir essa afirmação para curar as doenças. O samaritano, porém, já estava curado. O que isso nos diz? Ao dizer ‘sua fé te salvou’, e em seguida curar as doenças, Jesus mostrava que, assim como a morte é a filha do pecado, a doença física é também consequência da doença espiritual, a nossa separação do Pai.

            Ao dizer isso ao samaritano já curado, o Senhor quer nos mostrar a realidade além do ato de cura física. De fato, nove receberam o alívio físico, mas apenas um foi realmente curado.

            Todas as curas no Antigo Testamento (AT) são prefigurações de Cristo, como dissemos antes. Todas apontam para a mesma realidade, uma limpeza que só é completa em Deus. Acima de tudo, ao personificar a cura do pecado, o Senhor nos dá a chance de uma relação direta com Cristo, o verdadeiro médico, pois Ele cura as almas.

            O samaritano foi curado quando aceitou Jesus como seu salvador e com Ele desejou estabelecer uma relação pessoal. A relação que se abriu para todos, cumprindo a profecia de Isaías (Is 56,3-8). Essa é a catolicidade (universalidade) da Palavra. Todos os que aceitarem o Senhor serão recebidos. Porém, é preciso viver com Ele uma relação pessoal. Assim como na Antiga Aliança era necessário a participação litúrgica, na Nova Aliança isso ainda é necessário. O Senhor nos disse para “fazer isso em memória dEle” (Lc 22,19), não apenas para pensar nEle ou que essa relação pessoal fosse mera decisão que nunca mais precisa ser cultivada ou vivida. A relação com o Senhor é uma relação sacramental! Uma relação que une a fé e o sacrifício do Cordeiro em união familiar eterna. Uma união que deve ser sempre ratificada para o nosso bem. Comunhão e caridade são as chaves para a vida em família com Cristo.

            Nenhuma cura é completa sem uma relação familiar com Cristo. Essa relação é plena apenas na Igreja Católica, onde Seus Sacramentos são celebrados; onde Ele perdoa os pecados através de Seus sacerdotes; e participamos de Seu Sacrifício Salvífico. Com a Igreja Católica (universal), vivemos com irmãos que, na maioria das vezes, só têm em comum o amor a Deus. É o que basta para começar uma família. O resto vem conforme nossas doenças da alma são curadas.

            A verdadeira cura só ocorre quando vivemos nossa relação sacramental com o Senhor e escolhemos fazer parte da Sua família. Co-herdeiros de Cristo (Rm 8,17) em uma família que, como a Igreja, é problemática enquanto humana, mas perfeita e plena enquanto divina.

            Podemos dizer ‘não’, mas o ideal é sempre seguir as recomendações do médico. Somos todos leprosos espirituais que precisamos da única e verdadeira cura. Abracemos o amor de Cristo e sejamos parte vivente da Igreja. Não apenas nos declarando católicos, mas vivendo a vida na família de Cristo.

            Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,

            um Papista

 

2 thoughts on “Dez leprosos e um segredo.

    1. Papista Post author

      Obrigado. Há um espaço na página principal para cadastrar o e-mail e receber as atualizações. Fique com Deus!

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