A Igreja de Chamberlain

By | 29 de outubro de 2016

Em 30 de setembro de 1938, foi assinado um dos documentos mais famosos da história recente, o “Acordo de Munique”. Neville Chamberlain, o então Primeiro-Ministro britânico, junto com Hitler, Mussolini e outros, assina o que seria um acordo de paz, mas se tornou a vergonha da Inglaterra e do mundo livre.

O Acordo de Munique entrou para a história como a tentativa inútil de apaziguar o mal e ter com ele uma paz impossível. O acordo apenas deu tempo e liberdade para o crescimento e ação do Eixo. O resto é a sangrenta história da Segunda Guerra Mundial.

Infelizmente, a vergonha de Chamberlain nos permite traçar um paralelo sobre um doloroso um caso recente da Igreja.

Depois da divulgação de um vergonhso documento que alguns falsos católicos produziram, chamado ‘Católicos com Freixo’, parece ser uma boa hora para explicar o motivo da fé e a da luta do católico (o de verdade) no mundo. Também é a hora de avisar os nossos bispos que estamos de olho! Não é mais possível acreditar em um apaziguamento e uma falsa paz com quem quer a nossa destruição, e vai apenas usar esse tempo para mais infiltração, confusão, e deturpação.

A batalha dos católicos no mundo, a luta da Igreja Militante, é visto por alguns, erradamente (propositalmente errado), como o “medo do terror vermelho”. Se é óbvio que a infiltração marxista é o perigo mais urgente em termos temporais, a luta da Igreja não é outra senão contra as hordas demoníacas. O Marxismo é a forma mais visível, rápida, ainda atual, e eficaz de infiltração demoníaca.

Se as potestades do demônio são a causa, a infiltração comunista é o efeito imediato. Precisamos de estratégias contra as duas coisas.

A tentativa de infiltração na Igreja não é de hoje. Já nos primeiros passos da Igreja organizada, como é possível ler nos Atos dos Apóstolos e em seguida nas cartas, existia a luta contra a deturpação da doutrina. E quando Pedro pensa em apaziguar os religiosos judeus abrindo mão do novo modo de vida determinado pelo Senhor, é preciso que Paulo o coloque de volta no caminho (Gl 2,11-14).

A Igreja chamou de heresia uma doutrina ou linha de pensamento que divide os fiéis. Heresia vem de uma palavra grega que significa, basicamente, ‘escolha’. Para o cristianismo, significa alguém que escolhe a si mesmo, e não a Deus. Alguém que escolhe os seus próprios ensinamentos, e não os da Igreja, e com isso divide o rebanho e separa as ovelhas do verdadeiro Pastor, que é Cristo. Ou seja, um herege é todo aquele que desune ao ensinar falsa doutrina ou erro, e que não deseja aprender e concertar o seu caminho. Ele acredita mais nele próprio do que na Sagrada Tradição e na Igreja, nossa “Mater et Magistra” (Mãe e Mestra).

Satanás caiu porque se acha Deus. São Miguel Arcanjo ganhou o seu nome ao perguntar ao demônio “Micha’el“: “Quem é como Deus”? Se você pensa que o seu ensinamento, e não o da Igreja, é a verdade, você acredita que é tão bom ou melhor que Deus. Logo, toda heresia é demoníaca por natureza. Quando se diz que a infiltração comunista, ou de qualquer tipo, é uma heresia e é demoníaca, não há qualquer exagero ou erro. Não é o mesmo que discordar de uma opinião pessoal de um membro do clero, ou até mesmo o Papa. Mas discordar, negar, e distorcer a doutrina, o Magistério da Igreja, e a Sagrada Tradição.

A luta espiritual é a luta contra as hordas demoníacas. Por trás da luta terrena contra a infiltração e distorção da Palavra, existe a luta espiritual que é contra a falta de uma vivência católica. Não basta lutar se não há oração e compromisso com uma relação viva e pessoal com Deus. Não da forma que nós escolhemos, mas da forma que Deus e a Igreja ensinam. Principalmente através de uma vivência maior dos sacramentos.

Não basta ler a Bíblia como estudo. É preciso o momento para a simples leitura orante. Simples em sua forma, mas belo, complexo, e profundo em seu resultado. É o alimento e defesa contra o mal que ataca as nossas almas; é a luta por diminuir os nossos pecados incluindo a Glória de Deus em nossas vidas; é ajudar o próximo e o mundo de formas inesperadas; é diminuir a capacidade de atuação do mal sobre as almas.

Após definir os nossos termos sobre as lutas temporais e espirituais, precisamos entender de onde vem o mal temporal que hoje nos ameaça tanto. Eu quero traçar aqui um perfil sobre a relação da Igreja com a visão de mundo que permite o crescimento de heresias que parecem se preocupar com o povo, mas desejam apenas a dominação, o fim da fé, e a substituição da Igreja de Cristo por uma versão ‘light’, uma ‘igreja das boas vibrações’, uma igreja que não salva, mas fala bonitinho para não ofender ninguém.

No pós-iluminismo francês, a relação da Igreja com os Estados estava em frangalhos. Os efeitos, é claro, foram sentidos em todos os lugares, já que as mudanças se espalharam como ondas na água. Até mesmo em Roma, com a unificação da Itália e a tomada dos Estados Papais. Literalmente, a Igreja havia sido separada dos governos.

Apesar de tão alardeada ‘separação Igreja-Estado’ , de fato, são duas separações. Tal separação pode ser vista como um reflexo da luta nos já citados campos físico e espiritual. É o ‘Estado laico’, que é usado como desculpa para a separação da religião da vida prática dos homens.

A separação prática (!) da política do Estado com a Igreja é boa. A Igreja não nega isso. Significa que a Igreja, por meio de seus religiosos, não participa de decisões do Estado como uma força política, um partido ou padres candidatos, muito menos com a Igreja ligada diretamente ao governo.

Por outro lado, muitos não percebem que há uma segunda separação acontecendo. Uma versão maliciosa. Há muito tempo se usa a ‘separação Igreja-Estado’ para justificar um secularismo galopante que retirou as amarras morais e espirituais dos povos, nos lançando em uma era de relativismo e abominações sem igual. A religião vem sendo retirada à força da vida dos cidadãos sob a desculpa do ‘Estado laico’. Qualquer âncora moral baseada na tradição religiosa judaico-cristã é automaticamente vista como ruim e incompatível com um mundo secular. O que não tem sentido algum. Essa “separação” do afastamento da Igreja como base e consciência moral de um povo é terrível.

Do momento em que se diz que o povo baseia sua vida na moral cristã, as forças secularistas realizam todo tipo de acrobacia retórica para retirar o poder do povo. Ou ridicularizá-lo ao ponto das pessoas que formam a massa de manobra acreditar que o povo é ignorante e supersticioso, e não pode tomar decisões. Logo, elas deveriam ser tomadas pelos tais iluminados. É o ‘Iluminismo 2.0’ que tem como arautos e executores os marxistas.

Essa brutal separação chegou à universidade e às formas de análise crítica. O Marxismo atribuiu a si mesmo a capacidade de se tornar o fiel da balança de todo tipo de análise acadêmica. Ao ponto de professores e estudiosos de filosofia ou teologia modernos retirarem elementos centrais de suas áreas.

A filosofia moderna trata a metafísica como obsoleta. Parece loucura, mas a filosofia moderna não é mais um projeto filosófico, mas um cachorro que corre atrás do próprio rabo enquanto se auto-elogia por seu pensamento circular.

A teologia moderna parece ser incapaz de analisar a Bíblia sem retirar dela Deus e seus milagres. Os próprios teólogos e professores de teologia escrevem teses, livros, e dão aula praticamente pedindo desculpas ao mundo secular pela ‘superstição’ do passado, enquanto optam por uma história político-social cheia de supostas coincidências que levavam um mundo primitivo a interpretá-las como ação sobrenatural. Para eles, nenhum personagem bíblico existiu; nenhum acontecimento histórico ocorreu de verdade; e não existiram milagres ou manifestações divinas. Também parecem ser incapazes de imaginar um mundo em que nossas raízes religiosas, as nossas bases morais, permeiem todos os aspectos da nossa vida.

Essa separação criou gerações que frequentam a Igreja para aliviar sua consciência, mas que deixam a fé e a moral na saída. As pessoas retornam para um suposto ‘mundo real’, onde sua vida não inclui nada do que foi pregado ali. Essa separação impossível só poderia ter resultado nas gerações mais carniceiras, imorais e desumanizantes da história. Pessoas que substituem amor e moral por sexo ou hipersensibilidade afetada que tenta expurgar seus pecados vivendo um paganismo bobo, abraçando árvores, tratando bicho como gente, e um bebê como algo a ser sacrificado.

A forma insidiosa e mais eficiente que o demônio encontrou para retirar o homem do caminho divino é encher a Igreja de cretinos que espalham a doutrina marxista como forma de uma salvação que não salva.

Nós lutamos porque apenas uma Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, pautada pela Bíblia, Tradição e o Magistério, é capaz de nos conduzir à salvação. Lutamos porque o demônio se utiliza da infiltração marxista para distorcer o cristianismo a um ponto em que Jesus perderia a sua cruz, e um Cristo sem cruz não salva. Um Cristo apenas humano, que não morre em sacrifício salvífico, não resolve o problema humano do pecado. A infiltração marxista cria falsos sacerdotes que promovem as maiores aberrações em nome de uma fantasia igualitária.

Sem falar que a promoção de candidatos abortistas é um crime que deixará profundas sequelas em nossa sociedade. O genocídio de bebês não é outra coisa senão a destruição da nossa civilização. Os que são completamente intolerantes ao modo de vida religioso estão criando uma sociedade de bobos afetados que compram o discurso da tolerância sem perceber que estão sendo permissivos com quem não os tolera.

Em outros tempos, os católicos sabiam que, assim como um pai dedicado, o bispo deveria dar um aviso aos que estão no erro. Caso a pessoa não se corrigisse, deveria haver uma repreensão. Caso a pessoa se recusasse a mudar, uma punição (Mt 18,15-17). Sem isso, não existe esperança de recuperação. A punição é corretiva e evita que o comportamento danoso se espalhe. Não podemos confundir lobos com ovelhas desgarradas. A excomunhão não é um castigo, mas simples confirmação de que a pessoa escolheu um caminho incompatível com a Igreja. A pessoa se separou. A excomunhão apenas evidencia a separação do joio e do trigo.

O grande Winston Churchill, que viria a ser o Primeiro-Ministro britânico durante a Segunda Guerra, comentou sobre o acordo: “Entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e terão a guerra”. Não sejamos como Chamberlain em Munique! Nós já estamos em guerra! Tentar apaziguar o demônio é condenar os fiéis à morte e arriscar a perda das almas. É o contrário da missão que nos foi dada por Deus.

A cada omissão, novas almas caem vítimas de uma falsa doutrina. Muitas vezes propagadas dentro das igrejas e universidades. Nada pode ser mais terrível ou urgente.

Em meu último artigo no Senso Incomum (“Ad Tuendam Fidem – Para Proteger a Fé” http://sensoincomum.org/2016/10/07/ad-tuendam-fidem-para-proteger-fe/), eu publiquei documentos magisteriais que demandam uma ação dos bispos. Cumpri-los é uma obrigação, e não uma sugestão! Limpem nossas universidades, ou vocês estarão falhando em sua missão!

Por fim, nós lutamos pela glória de Deus! A glória do Senhor é a salvação de seus filhos através do Seu amor. Sofrer faz parte do amor. Um pai amoroso sabe do que seus filhos precisam. Doa o quanto doer, a verdade tem que ser preservada, e a Igreja é a mantenedora da Verdade. Não podemos fugir do nosso dever.

A Igreja quer paz. A diocese do Rio quer paz também. Mas já passou da hora de entender que só haverá paz se medidas enérgicas forem tomadas contra desobedientes e hereges. Ou será apenas mais um Acordo de Munique. Não haverá paz com fanáticos que querem mudar a Igreja com distorções tão graves como apoiar o aborto e ditaduras comunistas. A única intenção deles é vencer! Pela dominação, ou pelo cansaço dos bons. Se a Igreja não responder com firmeza, não haverá paz. É hora de ignorar a opinião pública vendida e lembrar que a paz é uma conquista, e não uma palavra vazia. Ou se implanta a ortodoxia, ou a paz será uma mentira. A paz é de Cristo, e a paz de Cristo é incompatível com o assassinato de bebês, a pregação de mentiras, e uma fé morta.

O diálogo com essa gente já foi tentado por mais de 50 anos. Enquanto eles fingem ainda dialogar, avançam por nossas universidades e púlpitos. Até quando?

Nossa luta é pela salvação das almas. Não ser salvo é a escolha de alguns. A Igreja não pode interferir no livre-arbítrio ao tentar fingir que uma falsa união os está ajudando quando está apenas provocando o mal para todos. Nossa Igreja é a de Cristo, e não a de Chamberlain!

Nossos bispos responderão a Deus pelos seus atos e omissões. Até lá, nossa luta é para que eles não lavem as mãos e abandonem as suas ovelhas aos lobos.

Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,

um Papista.

3 thoughts on “A Igreja de Chamberlain

  1. Bento

    Excelente texto! É a centelha que falta para diversas pessoas que, assim como eu, hesitam ou hesitaram em reconhecer que estamos em guerra; e que somente a fé em Cristo pode nos salvar…

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