A legítima defesa cristã.

By | 12 de agosto de 2016

Com o Islã massacrando cristãos pelo mundo, em um movimento que é, sim, religioso além de político, a questão da guerra segue não só pertinente, como urgente. Como eu disse no artigo anterior, já estamos em guerra. Resta saber se nós entraremos nela, ou optaremos por ser massacrados em silêncio.

Nas atuais circunstâncias, não entrar em guerra é um crime de responsabilidade! Não só custa e ainda custará muitas vidas, como custará as almas dos que viram as costas para os fatos!

Quando se fala em guerra, o cristão não pode assumir uma posição covarde ou politicamente correta. Tal postura tem tornado o homem em geral, e até mesmo muitos cristãos, em criaturas tão sensíveis que se tornaram frágeis, infantis e incapazes de lidar com a realidade. Nos tornamos tão ‘tolerantes’ que não temos personalidade ou credo. Abrimos mão de tudo para não ofender ninguém. Nos tornamos tão ‘sensíveis’ que somos bobos e chorões. É o veneno espalhado pelo relativismo. Ao invés de termos educação e cultura e tolerar pessoas, e firmeza para distinguir e rejeitar idéias ruins ou imorais, não temos educação e cultura, e aceitamos qualquer idéia, não importa quão idiota, imoral ou perigosa ela seja.

Ao contrário do Islã, o cristianismo não busca a guerra, nem tem a guerra e a dominação como formas de espalhar sua crença, como é o caso da religião muçulmana. A guerra, para o cristão, é sempre uma questão de legítima defesa. Diferente do que alguns querem passar, a legítima defesa, mesmo na terrível forma da guerra, é uma obrigação cristã! Por ser em legítima defesa, a guerra é justa.

Sempre que tocamos neste assunto, várias objeções são levantadas. Algumas são feitas com boas intenções. Outras, infelizmente, por malícia ou por causa do emocional debilitado pelo relativismo. Vejamos algumas objeções e suas respostas. Bem como a teologia e posição magisterial sobre a legítima defesa.

– Pacifismo.

O pacifismo cristão não é uma coisa simples de se entender. Em tese, não é o mesmo que absoluta não-agressão. Não é o mesmo que não-reação em caso de uma agressão séria ou ameaça à vida. Sua ou de outrem. Existem versões de pacifismo que são a negação completa do uso de armas ou ações de defesa que envolvam a violência. Porém, em se tratando da guerra, o pacifismo cristão é apenas a negação de se iniciar a guerra. Ou manter firme a convicção de que qualquer problema pode ser solucionado de forma pacífica. De maneira alguma isso implica não se defender de agressões. Ou seja: Pacifismo cristão é contra se iniciar uma ofensiva em tempos de paz. Não se trata de evitar se defender ou de reagir a um ato de guerra.

A doutrina católica moderna de legítima defesa é baseada quase inteiramente nos escritos de Santo Tomás de Aquino. O Catecismo da Igreja Católica (CIC), nos artigos 2263 a 2267, trata de legítima defesa, citando diretamente o Doutor Angélico. O artigo 2264 cita a Suma Teológica e demonstra que o homem tem a obrigação de preservar a sua vida, mesmo que isso implique em tirar a vida de outro. O artigo 2265 é o mais importante aqui, e diz: “A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de outrem. Defender o bem comum implica colocar o agressor injusto na impossibilidade de fazer mal. É por esta razão que os detentores legítimos da autoridade têm o direito de recorrer mesmo às armas para repelir os agressores da comunidade civil confiada à sua responsabilidade.”

O artigo 2266 trata da obrigatoriedade do Estado de preservar o bem comum e da proporcionalidade das penas.

O artigo 2267 define que, em casos excepcionais, a pena de morte pode ser usada como único meio para preservar eficazmente vidas humanas. O artigo merece um estudo inteiro, mas, resumindo, a teoria por trás dele é a guerra em legítima defesa, já que em tempos de paz qualquer criminoso pode ser isolado em prisão perpétua, e sua vida já não representa ameaça para outros. Ou seja, o artigo trata claramente sobre o direito de tirar uma vida em tempos de guerra.

Nenhum católico, seja qual for a vertente pacifista que ele adote para a vida, pode negar a autoridade da Igreja e a legitimidade desses preceitos. Para ser absolutamente claro: nenhum católico pode deixar de reconhecer essas normas vindas desde Santo Tomás e especificadas pelo Magistério como bússola moral da Igreja. Nem pode deixar de obedecê-las ou pregá-las como seu norte moral. O católico deve se esforçar para entender essas prescrições com todo o seu coração, usando as Escrituras, os Pais da Igreja, Santo Tomás de Aquino e todo grande teólogo católico, e muita oração. Essas prescrições são a representação da verdade moral da legítima defesa, um ato inteiramente justificado.

Muitos citam passagens bíblicas para tentar justificar sua terrível paralisia ante o mal que avança. Uma delas é descrita em Mt 5,39 e Lc 6,29. É o que popularmente se chama “dar a outra face”. O problema aqui é que de forma alguma essas passagens falam sobre a guerra ou sobre legítima defesa. Essas passagens falam da vida cotidiana, de humilhação e, aí sim, falam de não agressão em circunstâncias difíceis da vida. Teologicamente, elas falam sobre a humildade vencendo o orgulho através do exemplo.

Ainda em 1929, o escritor Hilaire Belloc, grande amigo de G.K. Chesterton, disse: “É quase certo que nós ainda teremos que lidar com o Islã em um futuro próximo. Talvez, se perdermos nossa fé, ele se erga de novo. Pois, depois que os ‘cristãos nominais’ dominaram a cultura islâmica, os conquistadores políticos dessa cultura começaram a perceber duas coisas inquietantes. A primeira é que a fundação espiritual deles não pode ser removida; e segundo, que a área de ocupação do Islã não diminuiu. Ao contrário, está se expandindo ainda que lentamente.”

Além da impressionante visão de Belloc ainda em 1929, há que se entender os motivos pelo quais sua ‘profecia’ não era um fato sobrenatural, mas um profundo entendimento cultural e teológico de um europeu estudioso da história do seu continente.

Quando diz “Talvez, se perdermos nossa fé, ele se erga de novo“, Belloc se refere ao que nas últimas décadas foi um fato alarmante: a Europa perdeu sua fé! É um continente radicalmente secularizado, cobaia e expoente de algumas das maiores experiências sócio-políticas dos últimos tempos; um centro do relativismo e do globalismo mais agressivo; um bastião da negação das suas raízes cristãs. A fé cristã sofreu uma terrível queda na Europa. O que se viu foi um multiculturalismo relativista que não possuía qualquer conteúdo para substituir a fé. No vácuo do cristianismo, e sob um bombardeio das mais diversas aberrações morais, o Islã avançou decisivamente sobre a Europa. Exatamente porque os relativistas não conseguiam reagir contra o fato de que havia um corpo estranho em seu meio (eles preferiram abraçá-lo), juntamente com o fato de que entre os que não aguentam mais as aberrações morais, muitos aderiram à única religião que aparentava ter uma resposta firme e objetiva para essas questões. Enquanto boa parte do cristianismo se preocupava em pregar marxismo ou a agradar a todos, mesmo que para isso precisasse relativizar o Evangelho que um dia juraram defender, o Islã ocupou as mentes e corações de quem queria uma resposta imediata e decidida. De certa forma, o Islã chegou a ser a única religião que ainda parecia uma religião, e não um serviço social. Isso sempre atrai os frustrados, os perdidos, e os radicais.

Belloc fala em ‘cristãos nominais’. Isso é fácil de se identificar até hoje. Quantos cristãos você conhece que se dizem cristãos, católicos, e se ofendem se você questionar o fato de que suas crenças, na prática, não tem qualquer semelhança com o que a Igreja prega? Esses são os cristãos citados por Belloc. Uma geração que viu enormes triunfos econômicos no ocidente capitalista; uma melhora incrível na qualidade de vida do século XX; além de um salto científico-tecnológico que parecia suprir qualquer necessidade. Essa mesma geração dominou o mundo com a economia e a tecnologia, e esnobou a necessidade de lembrar seu passado católico e a própria religião. No máximo, aceitavam uma espiritualidade domada e sem qualquer obrigação moral. O resultado é uma geração que não consegue explicar por que seu domínio econômico, o mesmo que fez tantos povos que viviam sob ditaduras comunistas desejarem ardentemente o último carro esporte e mil sabores de refrigerante, não pôde impedir o terrorismo e o avanço islâmico, ou uma ascenção chinesa que promete ainda morder a mão que os alimenta. Sendo que nenhum desses dois foi culturalmente reformado pela geração de ‘cristãos nominais’, ou secularistas brutais, e suas benesses financeiras e tecnológicas.

Tudo isso como Belloc diz: o Islã tem uma fundação espiritual que não pode ser derrubada com a riqueza ocidental. Assim como Alexander Solzhenitsyn identificou a fraqueza moral criada pela facilidade financeira e tecnológica do ocidente, o Islã também o fez. Não só resistiu aos atrativos ocidentais, como se expandiu para ocupar os espaços entre aqueles que, inebriados por sexo e teconologia sem limites, sequer percebem que estão sendo atacados.

Apenas reconstruindo o pilar moral do ocidente, que é o cristianismo, nós podemos injetar novamente aquilo que nos falta: coragem! Nossa civilização parece ter se esquecido de que a coragem vem da moral. Apenas quem crê em uma base moral sólida, no absoluto, tem algo a perder. Apenas quem tem algo a perder tem coragem para lutar por isso. Quem vive a vida ‘no momento’, abrindo a mente para permitir qualquer coisa, não tem nada para perder, já que tudo pode ser substituído por uma nova sensação ou ideologia.  Sem nada a perder, a pessoa se torna covarde. Além de não ser responsável por nada além de sua próxima sensação de satisfação, o homem passa a aceitar qualquer coisa para fugir até da mais banal decepção.

Para o cristão, a defesa da família é um dever. Assim como da sua comunidade e do seu país. A legítima defesa, mesmo com o uso de força definitiva, é uma obrigação no caso de risco de vida iminente. E nada é tão iminente quanto uma guerra que, na verdade, já começou. O ocidente não pode continuar tapando os olhos para o massacre dos cristãos que vivem em países muçulmanos. Assim como não pode fingir que o avanço muçulmano em países cristãos não está acontecendo. É obrigação de todos falar, debater, escrever e denunciar o avanço muçulmano e a teologia perversa por trás de tudo isso. Bem como defender os cristãos de toda forma possível. Isso requer coragem, estudo e disposição. O prêmio por tudo isso é nada menos que a salvação do cristianismo e de nossas almas. Não há espaço no céu para covardes ou para quem virou as costas para os seus irmãos e sua Igreja! Nem para quem confunde coragem e defesa da vida com derrotismo travestido de humildade e pacifismo!

Nossa luta é justa, e nossa missão é sagrada. Rezemos para que todos tenham a coragem para reagir; a dignidade para impedir mais massacres; e pelos cristãos que ainda vivem sob o terror diário.

Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,

um Papista.

2 thoughts on “A legítima defesa cristã.

  1. VENILSON MIRANDA ALMEIDA

    Simplesmente, um fantástico texto.
    Ainda quero aprofundar na diferenças das palavras pacifista e pacífico.

    Reply

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