Os santos – Santo Antão

By | 20 de abril de 2015

St Anthony of the Desert

Já expliquei aqui neste humilde site o que é um santo. Um santo é todo aquele que está no céu e é capaz de interceder por nós junto do Senhor que o levou por Sua misericórdia.

Em geral, nós não sabemos quem está no céu, ou quem ainda lá pode chegar. Ou mesmo se alguém foi para o inferno. Existem exceções no caso de quem está no céu. Alguns, os que viveram vidas virtuosas na fé e na entrega à vontade de Deus, têm sua santidade feita conhecida pelo Senhor através de Sua Igreja. É sobre eles que falarei um pouco nos próximos artigos. Homens e mulheres que são exemplos para todos.

O exemplo dos santos é o que de melhor podemos ter depois de nossa fé em Deus. Eles são não só motivo de alegria, mas a prova de que é possível alcançar a felicidade plena da eternidade com o Senhor. Suas histórias são tão variadas quanto são ricas. Alguns dos santos que pretendo citar são conhecidos. Outros provavelmente apenas por poucos. Cada exemplo de vida é diferente, mas todos têm uma história que devemos aprender com atenção. Pela vida e por ser parte fundamental da história da Igreja e do mundo em geral. Alguns mudaram a história, outros passaram a vida discretamente, mas nos deram muito mais que gente que é lembrada por multidões.

Espero que a santidade dessas pessoas possa servir de exemplo para o seu dia a dia. Não como algo distante, mas como algo que você também pode alcançar.

Santo Antão, ou Santo Antônio do Deserto:

Santo Antão, também chamado de “o Grande”, é sempre representado em ilustrações como um velho. Faz sentido, já que ele morreu com 105 anos. A vida de Santo Antônio do Deserto foi contada com enorme admiração por outro grande santo, Atanásio. Ele nos conta que Antônio nasceu de uma família rica do Egito e herdou sua fortuna com a morte dos pais. Santo Antão (nome que será privilegiado neste artigo) tinha planos para levar as palavras de Cristo ao pé da letra sobre vender tudo e seguí-lo, mas tinha uma irmã mais nova para cuidar. Assim que sua irmã, uma jovem também fiel e devotada, completou certa idade, ele a deixou viver com um grupo que formava um protótipo do que seria uma vida monástica para mulheres. O santo, então, vendeu grande parte do que possuía, deixou outra parte para seus vizinhos, e distribuiu tudo aos pobres. Era a hora de realizar seu sonho e viver uma vida de entrega a Deus como um eremita.

O que faria de Santo Antão diferente da maioria dos eremitas de sua época ainda estava por vir. A vida solitária e isolada não era uma novidade. Mas, até ali, não se sabia de ninguém que tivesse saído de uma vida tão confortável para se mudar para as entranhas do deserto, viver não só na necessidade, mas em uma dificuldade imensa de constantes tribulações. Santo Antão nos prova o valor da fé pela forma como ele passa pelas tribulações.

Santo Atanásio nos conta sobre as várias vezes em que Antão foi tentado pelo demônio durante sua vida no deserto. Entendendo o perigoso exemplo que o santo poderia deixar para a vida monástica, o demônio começa por agredi-lo fisicamente enquanto o tenta a voltar para a cidade. Ao ponto dele ser visto desacordado e muito ferido por algum peregrino que ocasionalmente o encontrava pelo deserto.

Recuperado em uma Igreja, Santo Antão volta para o deserto, convencido de que sua escolha era correta e que Deus o ajudaria contra o demônio. O Tinhoso resolveu então tentar o santo. Mulheres, ouro, poder e muito mais. Nada funcionava. A estratégia, então, foi assustar o pobre eremita. Certa noite, Santo Antão acordou cercado por uma horda demoníaca, todos assumindo a forma de animais selvagens, dos grandes e ferozes aos peçonhentos. Passado o susto e o medo iniciais, Santo Antão nos brindou com uma grande demonstração de fé e perspicácia no combate ao demônio, dizendo: “se você tivesse alguma autoridade sobre mim, não precisaria vir em grupo e conseguiria me forçar a fazer suas intenções”.

Porém, a fé não vem sem dificuldades e dúvidas. Muitas vezes o santo perguntou a Deus por que Ele não se mostrava mais claramente nessas situações. Certa vez, depois de um dos ataques, ele perguntou a Deus quem poderia escapar de tantas armadilhas se o demônio tentava assim a todos. Deus respondeu que a humildade os faria passar sem sofrer. Entendendo o valor da humildade, e alertado por Deus que existia outro eremita que podia ensiná-lo muito, Santo Antão procura São Paulo de Tebas, considerado o primeiro ermitão do deserto.

Ao encontrá-lo, Antão e Paulo conversaram por um dia inteiro e Santo Antão saiu maravilhado com o que aprendeu com o colega ermitão, um homem que já estava com seus 113 anos.

A roupa de São Paulo de Tebas era feita com fios de folha de palmeira. Antão resolveu aprender a fazer tal vestimenta e assim se curou da monotonia que também o tentava. Quando foi visitá-lo algum tempo depois, São Paulo estava morto. Antão o cobriu com um um manto dado por Santo Atanásio, bispo de Alexandria (e mais tarde seu biógrafo), e o enterrou.

As vestes que aprendeu a fazer sob inspiração de São Paulo de Tebas ele vestia em algumas ocasiões litúrgicas especiais. Imagine o choque de alguns. O impacto da santidade!

Santo Antônio do Deserto era analfabeto, podendo, talvez, ter aprendido a escrever já velho, ajudado por discípulos ou admiradores, como Santo Atanásio. Os tempos eram realmente diferentes. Naquela época, seu exemplo de vida e sabedoria eram o suficiente para que ele pudesse participar de debates e ser respeitado mesmo pelos inimigos da Igreja, hereges que fugiam confusos ao ser questionados por Santo Antão em algumas de suas poucas idas à cidade. Seu grande exemplo, humildade e sabedoria bastavam. Deus prometeu que seu nome seria lembrado e que sua palavra teria peso. Já em sua época isso podia ser visto. Algo que se confirma até hoje.

No fim de sua vida, Antão se retirou para um pequeno oásis no deserto, onde percebeu que Deus queria que ele aceitasse discípulos (não faltavam candidatos!) e organizasse a idéia da vida afastada do mundo. Ele recebe São Macário do Egito como seu discípulo e com ele estabelece o que seria o protótipo para a “Regra de São Bento”, a base para a vida monástica organizada. Orar e trabalhar! Essas seriam as bases.

Em seus últimos dias de vida, ele deu instruções para ser enterrado isolado e sem túmulo aparente. O homem que viveu buscando o isolamento e a humildade morreu como viveu. Nos deixou um belo legado, um exemplo de dedicação e fé. Uma vida de oração, esforço e contemplação. Acima de tudo, uma vida de entrega absoluta ao Senhor. Deus nos ajude a ter ao menos um pouco da força da fé desse grande santo.

Santo Antão, rogai por nós!

Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,

um Papista.

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